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'Feiraguai': contrabando convive com a formalização
sábado, 8 de maio de 2010
As vielas abarrotadas de produtos rasgam a Praça Presidente Médici, em Feira de Santana. Protegida por uma cobertura de eternit e toldos nas cores verde e vermelha, a Feiraguai tem ares de shopping popular. Lá dentro, uma vendedora devidamente maquiada e uniformizada surge em frente a prateleiras de vidro. Abre o baú de argumentos e tenta convencer um cliente a comprar um “xing- -ling” – produto pirata ou de qualidade inferior fabricado na China.
“Deste, você não acha em nenhuma loja”, garante a funcionária. Nas mãos, um telefone celular N95, com entrada para dois chips, televisão, rádio, MP3 e câmara fotográfica. Pela bagatela de
R$ 150, o estudante Alef Silva arremata o produto.
Pouco adiante, o empresário Sandro Santana comanda um boxe de seis metros quadrados onde trabalha com a esposa e mais dois funcionários, ambos com carteira assinada. O comércio é focado em eletrônicos e aparelhos de som automotivo. “A maioria dos equipamentos que vendo é original, comprada de grandes empresas nacionais. Hoje, emito nota fiscal em cerca de 85% dos meus produtos”, explica.
Os paradoxos são uma constante neste complexo comercial de 432 boxes e cerca de mil funcionários, incrustado no centro da maior cidade interiorana do Nordeste. A Feiraguai é assim: legalidade convive com contrabando, lojistas disputam espaço com camelôs e produtos originais são vendidos nas mesmas bancas que os piratas adquiridos ilegalmente.
Evolução - O tradicional ponto de comércio, no entanto, vem passando por uma metamorfose silenciosa nos últimos anos. E as mudanças vão muito além da estrutura física, em que as barracas deram lugar a boxes de alvenaria.
Com cerca de 80% das lojas regularizadas, a Feiraguai vive uma realidade de profissionalização, em que pontos de comércio se tornaram empresas, que recolhem impostos e uma taxa de administração mensal para manutenção da área. Em muitas lojas, inclusive, já é possível comprar produtos com cartão de crédito e débito.
“A imagem da Feiraguai está mudando gradativamente. Somos um centro comercial que gera muito emprego e traz renda para a cidade”, argumenta Waldik Sobral, vice-presidente da Associação de Vendedores Ambulantes de Feira de Santana.
Segundo ele, atualmente é pequena a margem de lojistas que não atuam como empresas. Mas admite dificuldades para regularizar a situação. “A gente orienta os comerciantes a buscarem a formalização, mas infelizmente abrir uma empresa ainda é muito caro”.
Contrabando - Apesar do avanço da regularização, a venda de produtos contrabandeados e repassados sem emissão de nota fiscal ainda se configura como um dos principais problemas da Feiraguai. De calçados a videogames, de computadores a telefones celulares: uma vasta gama de produtos importados entra no País sem o pagamento de impostos.
A rota da sonegação é conhecida: o produto sai da China, segue para o Paraguai, atravessa a fronteira para Foz do Iguaçu, é enviado a São Paulo e de lá vem para Feira de Santana. Na Feiraguai, é vendido no atacado e no varejo, abastecendo os consumidores baianos. Para o presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Feira de Santana, Alfredo Falcão, esta sonegação traz uma concorrência predatória.
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